Na pequena e quente Sorrento (Itália), banhada pelo Mediterrâneo,
vivia o Joãozinho, órfão de pai e mãe.
Pouco inteligente, mas dotado de muitas habilidades, era capaz de
fazer maravilhosos malabarismos.
Todas as manhãs,a multidão ia à feira na praça central para o ver
na banca das frutas do Senhor Baptista.
Fazia girar pelo ar limões, peras, laranjas, maçãs e até pepinos.
Por causa das suas representações, muitas pessoas compravam as
frutas nesta banca.
Em recompensa, a senhora Baptista dava-lhe um bom prato de sopa.
Certo dia, um grupo de artista apresentou-se na praça central da
cidade.
Joãozinho foi assistir.
Ficou encantado! Pediu um lugar no espectáculo e fez-lhes uma
demonstração dos seus malabarismos com as frutas.
Imediatamente foi aceite no grupo.
Disse adeus ao Baptista e partiu pelo mundo afora.
Já não mais se apresentava em trapos, mas com roupas vistosas e um
saco colorido.
Em cada espectáculo fazia umarespeitosa vénia, desenrolava um
tapete e iniciava.
Primeiro, os paus coloridos e brilhantes rodopiavam pelo ar.
Depois, os pratos que equilibrava numa vareta, fazendo-os girar.
Garrafas de madeira multicoloridas passavam pelo ar de uma mão
para a outra, como também argolas e tochas acesas.
Finalmente, o que fazia a multidão vibrar era o seu arco-íris:
lançava aos céus sete bolas: uma vermelha, uma alaranjada, uma
amarela, uma verde, uma azul, uma anil e uma violeta, até ao
momento em que todas giravam.
O arco-íris parecia rodar entre as suas mãos.
– E agora...
o sol no alto dos céus! – gritava.
Sem parar, apanhava uma bola dourada ebrilhante e arremessava-a
mais e mais alto, cada vez mais depressa...
E a multidão, encantada, aplaudia ruidosamente.
O Joãozinho tornou-se famoso.
O Joãozinho tornou-se famoso.
Apresentou-se até nas festas da alta sociedade e percorreu a
Itália de alto a baixo.
As suas roupas passaram a ser elegantes e ricas.
Durante uma das suas viagens, Joãozinho sentou-se sobre uma
mureta, para descansarpôs-se a admirar o dourado das pedras sobre
as quais insídia os raios do sol poente.
Quando ia comer o seu farnel, dois frades franciscanos
aproximaram-se:
Podes dar-nos um pouco da tua comida?
Perguntou um deles.
Pelo amor de Deus e com asbênçãos do nosso pai Francisco...
– completou o outro.
Sentem-se, homens de Deus, dá para todos – respondeu Joãozinho.
Enquanto comiam, Joãozinho contou-lhes o seu trabalho e os frades
explicaram-lhe o que faziam:
Para maior glória de Deus levamos alegria aos homens pelo
Evangelho de Jesus.
Evangelho de Jesus.
E tu, ao levar a felicidade aos pequeninos com os teus
malabarismos, também dás glória a Deus, pois todas as coisas
cantam a glória de Deus.
Joãozinho riu-se na sua ignorância e despediu-se feliz.
Por onde andava enchia os céus de arco-íris, e os aplausos
ecoavam.
Passaram-se os anos...
Joãozinho continuou a fazer malabarismos, até que um dia...
deixou cair o "sol no alto dos céus" e o arco-íris desfez-se no
chão.
A multidão não perdoou: zombou daquele que tantas vezes lhe
alegrara os dias.
Alguns dos assistentes fizeram algo horrível: atiraram-lhe
tomates e pedras, e Joãozinho teve de fugir a correr para salvar a
vida.
Agora, já não via os rostos alegres das crianças que tanto o
consolavam.
Caminhava sozinho.
Para poder comer, vendeu todos os seus objectos e só lhe restou o
arco-íris.
– É hora de voltar para casa – pensou.
E dirigiu-se para Sorrento.
Era Inverno e o vento da noite, soprava frio e impiedoso.
A chuva gelada, fazia Joãozinho sentir frio até aos ossos!
Contudo, nas sombras da noite, avistou o convento dos
franciscanos.
Todas as janelas estavam fechadas, mas a porta entreaberta deixava
ver apenas a lamparina acesa do sacrário, na Igreja.
O Joãozinho entrou.
Ali estava menos frio.
Arrastou-se para um canto, deixou-se cair pelo cansaço e adormeceu
imediatamente.
De repente, acordou com uma música e vozes
alegres a cantar: "Glória! Glória!" A Igreja resplandecia de luz!
Esfregou os olhos e mal podia acreditar no que estava a ver:
Quanta beleza! Num longo cortejo seguiam frades, freiras e pessoas
da localidade, todos bem vestidos, com lindos presentes nas mãos.
Tapeçarias, bandeiras e flores ornamentavam a igreja de alto a
baixo.
Quem seria o homenageado? Um rei? Joãozinho ergueu-se para ver
melhor: depunham as prendas diante de uma imagem de Nossa Senhora
com o Menino Jesus ao colo.
O que é isto? – Perguntou a quem estava mais próximo.
Não sabes?! É o aniversário do Menino Jesus!
Maravilhado, Joãozinho observava
tudo com espanto e admiração.
Jamais em toda
A sua vida vira cortejo mais bonito e ouvira cânticos tão
angelicais...
Joãozinho estava tão absorto que não percebeu.
Que todos se tinham ido embora após a cerimónia e, quando deu por
si, estava só diante da Nossa Senhora.
Tudo já estava apagado, excepto as velas brilhantes à volta da
imagem.
Aproximou-se e viu que o Menino Jesus, nos braços da Sua
Santíssima Mãe, parecia triste, muito triste.
Ah! Senhora! – Disse Joãozinho – Como gostaria de ter algo para o
Teu Filho...
Ele parece triste, apesar de todas estas belas prendas.
Mas, espera... eu costumava fazer as crianças sorrir!
Abriu, então, o seu saco colorido, pôs o velho traje, deu uns
passos para trás, fez uma vénia elegante, estendeu o tapete e
começou: primeiro a bola vermelha, a seguir a cor de laranja,
agora a amarela, e a verde, e a azul, e a anil e finalmente a
violeta.
Lançava para o ar, para um lado, para o outro, até aparecer o
arco-íris.
E finalmente – gritou Joãozinho – o sol dos céus!
A bola dourada subiu, rodou, rodou, cada vez mais alto e alto!
Nunca na sua vida havia feito tão bem esses malabarismos.
As bolas giravam mais e mais alto, mais e mais depressa! Um rastro
de cores encheu a igreja.
Os tons do arco-íris projectavam-se por todas as paredes, arcos,
naves e colunas.
Era uma féria de cores!
O coração do Joãozinho palpitava:
– Para ti, "Doce Menino" para ti – gritava.
O Irmão António levantava-se antes do alvorecer para abrir a
igreja e tocar os sinos.
Nesse dia teve uma surpresa: viu através dos vitrais luzes
coruscantes dentro do templo.
Era como se o sol nascesse lá dentro! Primeiro tudo parecia
avermelhado, depois alaranjado, depois dourado! Correu, o Irmão, e
abriu as portas.
– Santo Deus! Um malabarista...
– exclamou.
Foi chamar rapidamente o Padre Superior.
Voltaram os dois e, ao chegar à porta da igreja, encontraram-na de
novo às escuras.
Entraram e tropeçaram no velho Joãozinho que dera tudo de si para
alegrar o Menino Jesus e morrera de cansaço...
O Irmão António virou-se para trás e, boquiaberto, com os olhos
arregalados, fitos na imagem da Virgem com o Menino e conseguiu
apenas dizer:
– Irmão, olhe, olhe...
O Menino Jesus sorria com a bola dourada nas mãos
Deus concede a cada um de nós dons especiais para Que os
desenvolvamos e alcancemos a perfeição.
Caminhar rumo a Deus deve ser o lema Que nos guia na vida.
E muitas são as vias pelas Quais alcançam esse objectivo.
Essa variedade está bem ilustrada nesta lenda de um malabarista,
Que na sua simplicidade Quis alegrar o Menino Jesus com a sua
arte e os seus dons.