Data do ano de 900. Em 1911 esta igreja foi
incendiada e a sua reconstrução só foi feita por
volta do século XVIII. Mas sobre este assunto
não existe qualquer documento que nos possa elucidar
correctamente. Assim, o senhor Padre Custódio Marinho relatou o
seguinte: "Li, já repetidas vezes em livros de autores bem
informados que a igreja de Borba de Godim da Lixa do concelho de
Felgueiras era de construção recente, como se vê claramente pela
data gravada na pedra padeeira da entrada da torre da dita
igreja".
Ora aí está uma afirmação claramente demonstrada, redundando em
clamorosa mentira.
Vamos analisar as pedras da construção geral do corpo da Igreja e
a Capela Mor, são uniformes apesar de a Capela ter sido um pouco
alterada. Mede a parede levantada a espessura de cinco palmos.
Quem apreciou a construção viu que a parede levantada tem por
fundamento dois blocos de parede - exterior e interior - vasados
ao meio por um espaço de cerca de dois palmos que é preenchido por
terra e pedra miúda, ligadas de tempos a tempos pelas pedras
juntoiras em forma de cruz, dotada nas paredes. Além das portas,
aparecem janelas românicas que no exterior são umas friestas, mas
interiormente, tem forma de funil para iluminar o interior e os
cachorros. Agora, após o restauro, elas estão à vista duas do lado
sul, uma do lado do norte, outra na Capela Mor que dá para a
sacristia. Estes são os elementos positivos que foram descobertos
na obra do restauro.
Vamos agora observar a capela de Nossa Senhora de Lurdes. Pelo que
nos diz a Lápide que aparece no lado poente da dita Capela, foi
construída em 1768. As paredes e as janelas já são de construção
inteiramente diferente. As janelas são bem rasgadas e as paredes
construídas num só bloco maciço, desaparecendo os cinco palmos de
largura. Embora para abrir a porta da citada Capela tivessem os
pedreiros de romper as outras paredes da Igreja abrindo um arco
bem elegante, conservando a espessura das paredes antigas que
nessa altura já tinham o gosto das medidas lineares inglesas e
agora já estamos no dito século XVIII (1778)
Vamos à torre.
Esta torre que custou quatrocentos mil réis é uma obra perfeita,
bem construída, bem cuidada. Na padieira da porta diz que foi
feita em 1790. A construção já tem outro ritmo e não há os cinco
palmos antigos.
Uma pergunta: porque é que os sábios arqueológicos se enganam
tanto?
É fácil a resposta. Quando eles de olho vivo examinaram a Igreja
verificaram que uns trolhas de fraco gosto com cal e massa tinham
alterado a face da Igreja, tapando e alisando buracos e maselas
que outros pedreiros tinham aberto no vetusto corpo da venerada
Igreja.
Foram-se com violência às paredes e rasgaram janelas grandes e os
trolhas com pedra e cal taparam as velhas e veneradas janelas.
Aparece junto ao arco cruzeiro uma escadaria de pedra ao sentido
longitudinal que foi transformada em mausoléu sala, para cinco
caixões, coberto por uma pedra preciosa onde se vê o brasão do
fidalgo Manuel de Moura Coutinho que morreu em 1546.
Mas para quê estas minudências
Para afirmar que esta Igreja, bem construída como foi, não andou
aos tombos, mas permaneceu como era desde a nascença - século nono
- quando o fidalgo, duque de Espuleto e rei de Itália deposto, se
ausentou para estas terras e foi o fundador desta Igreja. Tinha o
nome de Arnufo ou Arnaulfo, senhor das terras de Aião, Celorico e
Borba de Godim, foi trisavô de Egas Moniz, aio digníssimo de D.
Afonso Henriques. Outra prova de que a Igreja não é recente é o
facto de, em fins de Maio de 1981 aquando das obras de restauro,
se ter verificado que o Altar Mor era de pedras e barro e nessa
altura ter aparecido também uma moeda com data bem legível do ano
de 1752, reinado de El-rei D. José, ali perdida há cerca de 234
anos.
O valor da mesma é insignificante, mas a referencia é valiosa,
pois que é bem interessante de determinar o ano em que se procedeu
à demolição da Capela Mor para a ampliar. Sabendo-se ao certo a
data da construção da torre - 1790 -, será fácil encontrar a
aproximação à data provável da construção da Capela Mor.
O Dr. Eduardo Freitas afirma no seu livro "Felgerias Rubeas" que a
Capela Mor foi edificada em 1670. A moeda encontrada no Altar Mor
é de 1752. Resta saber a data em que foi levantado o altar dentro
da citada Capela uma vez que a moeda aponta para depois do ano de
1750, oitenta anos depois.
Se a obra foi feita em tempos da Rainha D. Maria I, a moeda foi de
certeza ali perdida, mas cunhada durante o reinado de seu pai
El-rei D. José.
Para finalizar resta dizer que a Igreja de Borba é um edifício
grande, muito simples exteriormente, mas muito bem conservado.
Interiormente é todo revestido de azulejos antigos. Tem boa talha
na tribuna, altares, público e arco cruzeiro. O tecto é apainelado
com pintura a óleo.