Não se conhece bem a origem da palavra “Lixa”.
Maurício Antonino Fernandes, refutando os que anotam, defende que
a palavra derivará, por corrupção, de “Lisa”, e muito
concretamente de “Serra Lisa”, como seria chamado antigamente o
terreno elevado, mas plano, que principiava na Cerdeira das Ervas
e acabava no Alto da Lixa.
Nesta linha condutora, o termo Lixa significa fonte, nascente, e
até estância termal.
Recorrendo ao filósofo francês Junet, ao estudar o vocábulo
“Luxeil” no seu “Dictionnaire Étymologique Latin”, o mais
conceituado historiador das coisas de Felgueiras, sustenta que
Lixa é proveniente de “Luxae” ou “Luxovium”, “termos celtas que
não só significam fonte, nascente, mas ainda divindade ligada ao
culto das águas e das estâncias termais”.
As primeiras, e modestas edificações da Lixa, surgiram na forma ou
consequência de uma pequena rua, Rua Velha ou Rua da Lixa,
próximas da Capela de Santo António.
Tais edificações foram-se progressivamente alargando mais para
sul, prolongando-se para além do minúsculo largo da Cruz, actual
Largo 1 de Abril, nome que lhe advinha do facto de aí se cruzarem
a Rua Velha, com o seu Casario, e a estrada vinda da nascente das
terras de Basto.
Esta última subia ao Ladário até à estrada vinda do Litoral e
Poente e terras de Penafiel, ligando-se a poucas centenas de
metros do S.
Gens à estrada que ligava o Minho a Trás-os-Montes — via essa já
referida anteriormente.
Já nas últimas décadas do séc.
XIX, com a construção da estrada real da Lixa à Ponte de Lima e
consequente cruzamento no Alto da Lixa, a Lixa passou a ser o
fulcro central rodoviário de todas as vilas e cidades dessas
províncias administrativas.
Depois da Rua Nova (ou Nova Rua) e a seguir ao Poeiro, fizeram-se
as edificações da Cruz (Largo) e ao longo de toda a ala nascente
da estrada até ao Ladário, sendo, actualmente, poucas as casas
ainda existentes.
Entretanto, e para Poente dessa mesma via, estendiam-se os montes
com pronunciada ladeira de abaixamento até à igreja de Vila Cova
da Lixa.
Templo dedicado ao divino salvador, a actual igreja paroquial de
Vila Cova da Lixa não é aquela que primeiro foi construída na
freguesia.
O templo que hoje existe, e que aproveitou do primitivo a
Capela-Mor e a porta lateral de entrada, data do séc.
XVIII, precisamente do ano de 1718.
Antes desta igreja existiu uma outra que terá sido construída no
ano de 1200 (aproximadamente), já que, como está escrito, essa
primitiva igreja foi sagrada em 1238.
Também do lado poente, foram construídas muitas casas, algumas das
quais remontam ao séc.
XVIII e XIX.
Nos montes que ladeavam a estrada fizeram-se as primeiras feiras
da Lixa — feiras essas criadas pela Junta Geral Distrito, em Março
de 1871, chegando o Campo da Feira a apelidar-se de “Barão da
Vitória”, numa homenagem ao General Torres, liberalista que muito
se notabilizou quer no cerco do Porto, quer ao comando das tropas
de D.
Pedro que venceram a batalha travada na Lixa a 2 de Abril de 1834.
Entretanto, nos primeiros tempos, as feiras realizaram-se no largo
da Cruz e mesmo dentro dos muros da Casa do Terreiro, cujo
proprietário as autorizava.
Devido à importância das feiras, e à consequente atracção que elas
constituíam os montes foram-se povoando, salpicando-se aqui e além
com novas casas que, já nesse tempo, vistas de longe, davam à urbe
“uma majestosa visão de casinhas, em linha horizontal, a
confundir-se no alto com o céu azul, e esbranquiçado.
”
A estrada real que atravessou os montes da feira deu, por isso,
origem a um importante surto de desenvolvimento da povoação da
Lixa, dela saindo a sua primeira urbanização.
Nem todos, mas certamente que alguns dos feirantes desses tempos
(mas também muitos de décadas menos recuadas) não deixavam, nas
suas vindas à Lixa, de provar os “biscoitos da Brígida”, de se
deliciarem com cabrito e arroz do forno servido em travessas e em
alguidares de barro, ou com as “tripas à moda do Porto”, iguarias
que constavam dos cardápios de “Casas de pasto” tão conhecidas
como foram as do “Barria” e do “Ferrador”, o “Antoninho do Rosso”
ou da “Cobra”, do Idílio Lima ou do “Cantinho da Alegria”.
O decreto da elevação da população da Lixa, à categoria de Vila
foi aprovado na reunião do Concelho de Ministros realizada no dia
8 de Março de 1833.
O Dr. António Cerqueira Magro, nascido a dois passos de Borba de
Godim, adquiriu, por volta do ano de 1900, a mata de Seixoso e, aí
construiu um sanatório.
Porém, em 1904, parte desse grandioso edifício foi devorado por um
violento incêndio.
Todavia, Dr.
Cerqueira Magro reconstruiu o prédio mas com outro fim: estância
de repouso.
Dado a grande afluência de visitantes e porque os meios de
transporte eram raros, o Dr. Cerqueira Magro, com a colaboração do
Dr.
Eduardo de Freitas e outro “ricaços” de Penafiel, Felgueiras e
Lousada, e, ainda com a ajuda da Casa de Câmbio Coimbra e Irmão,
do Porto, ligaram Penafiel à Lixa pelo caminho-de-ferro passando
por Lousada, Unhão, Longra e Felgueiras.
Mas esse privilégio durou apenas 8 ou 9 anos, pois, em 1922 ou
1923, a Joaninha — como então chamavam ao comboio de Penafiel à
Lixa — deixou de transitar.
Mas, felizmente, os automóveis começaram a aparecer mais amiúde,
nas estradas portuguesas.
O Seixoso começou a ser mais frequentado, mas só até 1940, altura
em que fechou, como estância de repouso.
Hoje esse magnífico edifício, rodeado de grandes eucaliptos e
pinheiros é ocupado pelos seus proprietários, os netos do Dr.
A. Cerqueira Magro, D. Maria Elisa F. C. Magro e seu irmão, o
Prof. Dr. Cerqueira Magro.
É, ainda, importante referir a belíssima água, quase medicinal,
que brota da Fonte de Juvêncio.
Esta água já foi comercializada, como qualquer outra água
medicinal.
E também as Reminiscências de uma batalha travada aqui, por D.
Miguel e D. Pedro.
Entre as terras que deixaram o seu nome ligado às lutas praticadas
entre liberais e realistas, encontra-se a Vila da Lixa.
É que foi aqui, num espaço compreendido entre a Capela (hoje) de
Nossa Senhora das Vitórias e a (demolida em Abril 1970) Capela da
Franqueira que a 2 de Abril de 1834 se travou um combate entre os
exércitos do rei D. Miguel e do (ex) rei D. Pedro IV.
Como tudo aconteceu.
“Foi em 2 de Abril de 1834 entre as tropas do brigadeiro José
Cardoso, com gente que trouxe de Oliveira de Azeméis,
reunindo-se-lhes outros contingentes que estavam em Baltar e o
resto da força desbaratada há pouco em Santo Tirso e os liberais,
que partiram de Guimarães, comandados pelo Barão do Pico do
Celeiro.
O General esperou estes no Ladário da Lixa, de onde a vista se
dilata até aos montes da Penha e Paçô, que ficam a sul da cidade.”
Após a batalha, o culto a Senhora da Vitória.
A batalha travada na Lixa fez naturalmente muitos mortos.
Parte deles foram sepultados na Igreja de Borba de Godim — os de
D. Miguel dentro da Igreja, os de D. Pedro cá fora.
É que as preferências do clero, assim como as de muitos habitantes
na Lixa, elementos da Nobreza ou do Povo, iam para o senhor D.
Miguel — que receberam uma autêntica humilhação.
Os liberais da Lixa (que eram poucos), a partir daí começaram a
chamar a uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, venerada numa
Capelinha que existiu ao lado da actual da Senhora das Vitórias.
Promovem, actualmente, à Senhora das Vitórias festas que se
conhecem em cada Setembro.
Anteriormente à realização de tais festas já se efectuava na Lixa,
na primeira segunda-feira do nono mês do ano, a Feira das Uvas.